Katabasis é um termo da mitologia grega que fala da jornada do herói ao submundo, geralmente em busca de algum tipo de entendimento. É a descensão desse herói. No processo criativo passamos por diversas adversidades, mas muitas delas são autoimpostas e portanto, passíveis de superação pelo próprio artista. KATABASIS: Uma jornada pelas autossabotagens do processo criativo através do Inferno de Dante foi um projeto desenvolvido para meu projeto final da faculdade, visando enaltecer a autonomia do artista durante seu processo criativo, através de um comparativo metafórico das autossabotagens presentes nesse processo e os nove círculos do Inferno, conceito criado por Dante Alighieri.
O projeto é uma performance artística que tem por objetivo central pôr à prova o meu próprio processo criativo e desafiar à Resistência, conceito proposto por Steven Pressfield. O objetivo é convidar o público para mergulhar no meu próprio processo criativo e vivenciar as autossabotagens presentes nele.
A performance é baseada em uma análise comparativa que realizei previamente acerca dos livros The War of Art, de Steven Pressfield e Inferno, de Dante Alighieri. Nessa análise, foram traçados paralelos entre os obstáculos enfrentados na nossa relação intrapessoal com a criação artística abordados por Pressfield e os nove círculos do Inferno ilustrados por Dante, que representavam os pecados das relações interpessoais da época. Um exemplo desta comparação se dá no primeiro círculo do Inferno de Dante, o Limbo. A pena destes é ansiar eternamente sem esperança. Na análise é possível traçar um paralelo com o conceito de Resistência apresentado por Pressfield, força externa e invisível que age sobre o artista e o impede a todo tempo de criar. Na minha concepção, estariam no Limbo todos aqueles que sucumbem à Resistência. Seria o Limbo entre a arte nascer ou não. Essa comparação metafórica teve por objetivo auxiliar na compreensão dessas armadilhas do processo criativo de forma lúdica, além de possibilitar que o artista venha futuramente a deter um domínio maior sobre seu próprio processo criativo.
A performance é uma síntese dos conceitos pesquisados e da minha própria experiência acerca do processo criativo; entretanto, é destinada a todos que lidem com alguma forma de criação. Sejam escritores, músicos, artistas plásticos, designers ou até mesmo acadêmicos. Ela é fortemente inspirada pelas emoções e sentimentos presentes no processo, juntamente com questionamentos, angústias
e incertezas. Contudo, há uma nota de esperança, a um passo que pretende demonstrar que todas essas questões são passíveis de superação pelo próprio artista. O processo criativo está inteiramente nas mãos do artista.
Por tratar de processo criativo, o projeto apresenta um caráter fortemente experimental, onde há
a necessidade da tradução dos conceitos apresentados por Dante, trazendo minha própria experiência acerca do processo criativo e a Resistência para criar.
Com uma lona de algodão cru estendida no chão, materiais para pintura à disposição e tintas vermelha, branca e preta, a performance consiste em pintar um quadro e desafiar a Resistência. Através da criação de adversidades autoimpostas durante o ato, o intuito é superá-las a fim de concluir a obra, vencer a Resistência e encerrar a performance. A performance conta com projeções ao fundo que retratam de maneira abstrata os círculos do Inferno.
O objetivo da performance é colocar meu processo criativo à prova e desafiar a Resistência. Assim como os artistas “profissionais” de Pressfield, o intuito é me adaptar e seguir com
a criação independente das circunstâncias.
As autossabotagens são impostas pelo próprio artista e passíveis de superação pelo mesmo e é isto que pretendo demonstrar com esta performance.
Ter como resultado uma lona e roupa branca sujas de tinta, simbolizando o “sangue” que
o artista dá pelo processo, além de retratar a necessidade de abraçar o caos, a “Katabasis”,
e reajustar os planos iniciais durante o processo. Necessidade de improviso durante
o processo.
Dia 13/06 (quinta-feira) às 18h
A performance foi realizada dentro da própria universidade,
PUC-Rio, na sala Tenda Arte 5
Apesar de contar com margem para improvisos e alterações no momento da performance, foi criado um roteiro para auxiliar na organização - desde compra de materiais, escolha de trilha sonora, até eventuais testes. Durante os experimentos com os materiais foram realizados algumas alterações no roteiro até culminar na estrutura final disposta abaixo:
1. Prelúdio/Monólogo:
– Inscrições dos portões do Inferno segundo Dante (áudio pré-gravado na trilha sonora):
“VAI-SE POR MIM À CIDADE DOLENTE,
VAI-SE POR MIM À SEMPITERNA DOR,
VAI-SE POR MIM ENTRE A PERDIDA GENTE.
MOVEU JUSTIÇA O MEU ALTO FEITOR,
FEZ-ME A DIVINA POTESTADE, MAIS
O SUPREMO SABER E O PRIMO AMOR.
ANTES DE MIM NÃO FOI CRIADO MAIS
NADA SENÃO ETERNO, E ETERNA EU DURO.
DEIXAI TODA ESPERANÇA, Ó VÓS QUE ENTRAIS.”
2. Cortar um pedaço de barbante, mergulhar na tinta vermelha e começar a enrolar no corpo todo. Angústia da Resistência inicial presente na criação.
3. Cortar o barbante e iniciar a obra esfregando o barbante vermelho na tela de algodão no chão. Simbolizando a vitória sob a Resistência.
4. Utilizar outros materiais para criar a obra, o profissional utilizando seu artesanal a seu favor.
5. Usar a água para criar - referência aos elementos dos círculos do Inferno e o controle sob as adversidades.
6. Cortar um pedaço da lona de algodão e vendar os olhos para criar - adversidade física, necessidade de adaptação e distanciamento da obra.
7. Cortar a venda, realizar ajustes ainda com os materiais.
8. Isolar os materais e seguir pintando somente com as mãos - limitações.
9. Finalizar a performance cortando um pedaço da lona com a tesoura e exibindo o resultado final para o público.
10. Encerramento/contextualização
-Acender as luzes, recitar o monólogo de encerramento:
“Katabasis é um termo da mitologia grega que fala da jornada do herói ao submundo, em busca de algum tipo de entendimento. É a descensão desse herói. No processo criativo enfrentamos diversas adversidades, muitas delas autoimpostas, mas que também são passíveis de superação pelo próprio artista. É através da compreensão dessas autossabotagens que garantimos a autonomia no nosso processo de criação, abraçando a imprevisibilidade e o caos presentes nessa jornada. Katabasis nada mais é do que um convite a deixar de lado o medo e abraçar essa anarquia inerente ao processo criativo. Então é isso, obrigada a todos por terem vindo, e que comece a derrocada.”
– Lonas finas de algodão cru na parede ao fundo onde foram realizadas as projeções, com uma tira de plástico preto de cada lado;
– Lona preta protegendo o chão com uma lona de algodão cru por cima onde foi realizada a performance;
– Materiais dispersos ao longo da lona branca;
– Mesa com laptop, caixa de som e projetor em frente à área da performance.
– Macacão utilitário branco;
– Rabo de cavalo.
O propósito da escolha do figurino foi além da praticidade, ter uma distinção clara do início da performance para o final. Iniciar com a roupa perfeitamente branca e finalizar com o macacão sujo de tinta, simbolizando a entrega.
– Música: Station - Russian Circles
A escolha da música foi um rock progressivo instrumental, com diferentes nuances ao longo da música. A música original tem 8:43 minutos e ela foi estendida para que houvesse uma introdução mais calma, onde foi incorporada já na gravação as inscrições dos portões do Inferno. A música única faz alusão ao processo criativo que não é linear e as viradas da música foram estratégicas para delimitar quando seria necessário realizar os atos do roteiro.
As projeções serviram tanto para auxiliar graficamente na performance, quanto para traduzir a narrativa dos círculos do
Inferno de Dante.
O vídeo se inicia com uma gravação da minha voz recitando as inscrições dos portões do Inferno e através de imagens abstratas
e de elementos da natureza, remete à elementos presentes em cada um dos círculos. Foi realizado um mapeamento desses elementos para que essa tradução para o vídeo pudesse ocorrer. Portanto, os ventos e tempestades, por exemplo, fazem alusão ao Vale dos Ventos, passando pela lama presente na pena do terceiro círculo,
e segue assim sucessivamente até finalmente chegar no nono círculo, composto por gelo.
As imagens foram obtidas em banco de dados, porém editadas
e tratadas para as projeções.
Foi elaborado um flyer convite para ser enviado
para o público por Whatsapp, disposto ao lado:
Por fim, foram feitos registros em fotos e vídeos da performance, afim de documentar todo o processo.
O resultado final além das fotos, foi um vídeo completo da performance e a lona pintada conforme proposto inicialmente.
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